Transtorno do espectro do autismo (TEA)

icone Qual o prognóstico (evolução) da criança com TEA? Podemos falar em cura?

Embora exista um consenso entre a comunidade científica de que não há cura, de acordo com os estudos de acompanhamento para as crianças, para adolescentes e para futuros adultos com TEA, não é raro essa perspectiva ser divulgada de uma maneira um “tanto arrogante”, “sombria”, por profissionais cristilomancistas (aqueles que acham que tem o poder de ver o futuro numa bola de cristal). Esse tipo de postura pode levar ao risco de que dados científicos sejam distorcidos, como, por exemplo: ao não se considerar as diversas variáveis envolvidas na evolução e no prognóstico de crianças com TEA. O mais devastador, nesse tipo de postura, é o “estrago psicológico” e a “perspectiva de esperança desinvestida, muitas vezes comprometendo o tratamento”, provocado nos pais pelo impacto negativo, começando no diagnóstico reforçado pelas explicações relacionadas ao prognóstico dadas pelos “ilustres futuristas”. A partir desse momento (quando os pais não procuram um outro profissional) terão que percorrer um longo caminho (lidar psicologicamente com a situação, e não raro, objetivamente com gastos financeiros acima de suas possibilidades), desde o diagnóstico, acompanhamento, intervenções terapêuticas “sabendo que o filho que tem uma doença crônica e incurável”, vaticinado por um “ilustre futurista de ego inflado”.

Felizmente, ainda existem bons profissionais, não só capacitados tecnicamente, mas premiados com muita sensibilidade e bom senso, ao se depararem com a “pergunta quase que universal dos pais, em relação ao futuro do seu pequeno diante do diagnóstico”. Com a evolução do diagnóstico precoce e a implementação das intervenções adequadas, o futuro dessas crianças tem se tornado bem melhor quando comparado há 40 ou 50 anos atrás. Muitos adultos com TEA podem falar e se comunicar de maneira funcional, frequentar a escolar, conseguir um grau de escolaridade, viver em comunidade com plena autonomia, resultando em progressos concretos na qualidade de vida. Essa referência se faz à realidade e não a uma perspectiva de cunho negacionista.

Fatores relevantes de prognósticos devem ser considerados, como desenvolvimento de linguagem funcional até os 5 anos, presença ou não de deficiência intelectual, condições médicas associadas (como epilepsia, a qual pode estar associada a diferentes graus de deficiência intelectual e, consequente, diminuição na capacidade do desenvolvimento ou comprometimento da linguagem), intervenções precoces e suporte familiar (frequentemente vinculados à motivação e à esperança dos pais), acesso a serviços especializados etc. O médico tem um papel fundamental nesse contexto, passando informações realistas, precisas, nunca se esquecendo do seu apoio, incentivo, e principalmente, o fortalecimento contínuo da esperança dos pais ou dos cuidadores, bem como, de quaisquer profissionais que trabalham com essas crianças e necessitam das informações ou orientações.

FONTES
American Psychiatry Association. Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders (Fifth Edition)-DSM-5TM. American Washington, DC: American Psychiatric Association, 2013. ISBN 978-0-89042-554-1 (Hardcover) / ISBN 978-0-89042-555-8 (Paperback).
http//: www.psych.org
Anderson DK, Liang JW, Lord C. Predicting young adult outcome among more and less cognitively able individuals with autism spectrum disorders. J Child Psychol Psychiatry. 2014; 55: 485–94. [PubMed: 24313878]
Lord C, Elisabeth M, Baird G, Veenstra-Vanderweele J. Autism spectrum disorder. Lancet. 2020; 11 392 (10146): 508–520. doi:10.1016/S0140-6736(18)31129-2.