Transtorno do espectro do autismo (TEA)

icone Quantas crianças no mundo e no Brasil são diagnosticadas com TEA:

Dados recentes têm evidenciado um aumento considerável na prevalência de crianças e de adolescentes diagnosticados com TEA. Nos Estados Unidos, o número saltou de 1 para cada 150 crianças de 8 anos entre 2000 e 2002 para 1 em cada 58 crianças em 2014. Um estudo de março de 2020, lançado pelo CDC americano, apontou um número ainda maior, de 1 caso para cada 54 crianças. Segundo dados da Associação Americana de Psiquiatria, a frequência do TEA nos Estados Unidos e em outros países alcançou 1% da população.

De acordo com a OMS/OPAS (2021), estima-se que no mundo exista uma em cada 160 pessoas ou crianças com TEA, entretanto, segundo a própria OMS/OPAS, algumas pesquisas bem controladas têm relatado um número que são mais elevados, concluindo que com base nos estudos epidemiológicos nos últimos 50 anos parece estar aumentando globalmente. Abordaremos essa questão em conteúdo específico em breve dentro do site.

No Brasil, ainda não existem dados suficientes que possam representar a real prevalência do TEA na nossa população. Temos poucos estudos, com metodologia longe de ser a ideal, mas de grande valor em relação ao pioneirismo. Num desses estudos, Parasmo e cols. investigaram uma população de 1715 estudantes, com idades entre seis e dezesseis anos do ensino fundamental de escolas públicas das regiões metropolitanas de quatro cidades brasileiras (Goiânia, Fortaleza, Belo Horizonte e Manaus), os autores relataram uma taxa de 1% de crianças com TEA (igual a prevalência média encontrada no mundo). No estudo foi utilizada uma subescala para identificar crianças e adolescentes com TEA inserida num instrumento, não específico para o TEA, isto é, não faz parte um instrumento específico para triagem ou diagnóstico de crianças ou adolescentes com TEA. O instrumento utilizado por Parasmo e cols. foi o K-SADS-PL, enfatizando que a amostra (no de participantes do estudo) provavelmente tenha sido o maior estudo já publicado em número de participantes, mesmo não se utilizando instrumento, digamos mais adequado, é pioneiro em relação ao número de participantes e abrangência regional. O estudo foi publicado pela Revista Brasileira de Psiquiatria em 2015.

Quando se fala em prevalência, não se pode deixar de mencionar a proporção em relação ao sexo. No TEA, a prevalência é quatro vezes maior no sexo masculino quando em relação ao sexo feminino, não existindo ainda, até o momento, uma explicação consolidada para essa diferença (4M/1F). Posteriormente dedicaremos um tópico específico detalhando as possíveis explicações para essa diferença, já que ainda há controvérsias na comunidade científica no tocante a esse aspecto.

Prevalência: trata-se do número de casos de uma doença durante um período específico.

Fontes:
Associação Americana de Psiquiatria. Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5). American Psychiatry Association: Washington, DC. Tradução: Maria Inês Correia Nascimento et al. Edição: Porto Alegre: Artmed, 2014. ISBN: 978-85-8271-088-3.

Bandim JM. Autismo In: Assumpção Jr. FB e Kuzsynsky (editores). 2a ed. Rio de Janeiro: Atheneu. Cap. 7, p.82, 2017. ISBN: 978-85-388-1044-5. CDU:155.92. https://www www.atheneu.com.br
https://www.paho.org/pt/tópicos/transtorno-do-espectro-autismo. Acessado: em 2/9/21.

Christensen DL, Baio J, Van Naarden Braun K, Bilder D, Charles J, Constantino JN, et al. Prevalence and Characteristics of Autism Spectrum Disorder Among Children Aged 8 Years-Autism and Developmental Disabilities Monitoring Network, 11 Sites, United States, MMWR Surveill Summ. 2016; 65(3): l-23.

Zablotsky B, Black LI, Blumberg SJ. Estimated Prevalence of Children With Diagnosed Developmental Disabilities in the United States, 2014-2016. NCHS Data Brief. 2017; (291): l-8.


Instrumentos: são entrevistas padronizadas, aplicadas por profissionais capacitados que coletam junto aos pais ou cuidadores, dados referentes aos sintomas histórico médico da criança ou do adolescente, observação direta da criança ou do adolescente. Variam em relação à estrutura, ao tempo de aplicação, à observação direta da criança, à idade. Alguns exigem treinamento especializado por parte dos profissionais que os aplicam. Em relação ao Brasil, muitos instrumentos são importados de outros países (principalmente Estados Unidos) e simplesmente traduzidos para o português, muitas vezes até mal traduzidos e já utilizados na prática clínica e pesquisa.

Segundo Jorge (1998) e Menezes (1998) citados por Assumpção (1917): “Na maioria das vezes, em nosso país, esses instrumentos são traduzidos sem os mínimos cuidados necessários, aplicados em populações variadas, com os resultados obtidos generalizados de maneira irreal e, muitas vezes, pouco responsável, uma vez que para se escolher o instrumento adequado para um determinado estudo é importante conhecer-se os conceitos de validade e confiabilidade, bem como, a adaptação deste à realidade brasileira”.


Os instrumentos administrados no TEA podem ser classificados em:

  • Entrevistas estruturadas: fornecem um roteiro para o entrevistador visando obter informações suficientes sobre inúmeros aspectos, como funcionamento, sinais ou sintomas de um transtorno, obedecendo normalmente ao preenchimento de determinados critérios para o diagnóstico ou não, referentes a um manual de diagnóstico (como por exemplo: entrevistas estruturadas baseadas nos critérios de diagnóstico para o TEA de acordo com o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, em sua 5a edição (DSM-5) elaborado pela Associação Americana de Psiquiatria (APA). No caso das entrevistas estruturadas, o roteiro oferecido não permite ao entrevistador qualquer interpretação das respostas dos entrevistados (no nosso caso, crianças e adolescentes).
  • Entrevistas semiestruturadas (baseadas no entrevistador): podem ter a estrutura na forma de questionários ou de escalas, servem normalmente como guia para o profissional que os aplica, ajudando a esclarecer respostas e perguntas sobre determinados sintomas. Podem apresentar múltiplos itens que permitem detalhamento ou esclarecimento adicional sobre os sintomas, permitindo dessa forma, dependendo do instrumento, obter informações a respeito do diagnóstico atual, sintomas que ocorreram anteriormente (em anos anteriores), podendo o entrevistador fazer perguntas adicionais para esclarecer uma determinada informação obtida. Mesmo com um formato mais flexível, as entrevistas semiestruturadas de diagnóstico seguem um método de sondagem padronizado, no sentido de que todos os entrevistadores sigam um padrão específico para o que está sendo investigado.

Fonte:
American Psychiatry Association. Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders, 5th edition, (DSM-5). Washington, DC: American Psychiatry Association, 2013.


FONTES DO TÓPICO:
Assumpção Jr. FB. Semiologia na Infância e na Adolescência (1a edição). Rio de Janeiro: Atheneu, Cap 12, p. 159, 2017. ISBN 978-85-388-0762-9
Parasmo B, Lowenthal R, Paula C. Autism spectrum disorders: prevalence and service use in four Brazilian regions. Revista Brasileira de Psiquiatria. 2015; volume 42.

Psiquiatria Infantil: Avaliação, exames e testagem. In: Sadock BJ e Sadock VA (eds). Compêndio de Psiquiatria: Ciência do Comportamento e Psiquiatria Clínica (9a edição). Tradução: Claudia Dornelles et al. Porto Alegre: Artmed. Vol.1, Cap 37, p1229-1230, 2007. ISBN: 978-85-363-0763-3. CDU:616.89 (035).

Zablotsky B, Black LI, Maenner MJ, Schieve LA, Blumberg SJ. Estimated Prevalence of Autism and Other Developmental Disabilities Following Questionnaire Changes in the 2014 National Health Interview Survey. Natl Health Stat Report. 2015; (87):1–20. Zablotsky B, Black LI, Blumberg SJ. Estimated Prevalence of Children with Diagnosed Developmental Disabilities in the United States, 2014-2016. NCHS Data Brief. 2017; (291):1–8.

https://www.cdc.gov/mmwr/volumes/69/ss/ss6904a1.htm?s_cid=ss6904a1_ w. acessado em:
Ferri, SL, Abel T, Brodkin ES. Sex differences in autism spectrum disorder: a review. Current Psychiatry Reports [S.L.] v. 20, n. 2, p. 22-22, fev. 2018. Springer Science and Business Media LLC. http://dx.doi.org/10.1007/s11920-018-0874-2